terça-feira, 4 de agosto de 2009

A Educação em Kant e Adorno

RECUPERAÇÃO

INTERDISCIPLINA FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO


Kant afirma que o homem é o único animal que precisa ser educado, e o conceito de educação em Kant representa o cuidado, a disciplina e a instrução.

O cuidado são as preocupações que os responsáveis devem ter para que as crianças não usem a sua força de maneira nociva.

A disciplina transforma a animalidade em humanidade, dá ao homem a capacidade da razão e, é esta, que o diferenciará dos outros animais. A disciplina impedirá o homem de desviar-se da sua humanidade e o fará seguir leis, não mais leis naturais e instintivas, mas leis racionais que o farão respeitar o próximo e a viver em sociedade. Mas isso deverá ser feito muito cedo, e aí entra a escola, pois se a disciplina for dada ao homem muito tarde ele já terá sido inclinado à liberdade dos instintos e seguirá uma vida de selvageria.

Para Kant uma geração educa a outra. Pais bem orientados com certeza educarão melhor seus filhos.

Será?

Não é isto que estamos vendo hoje. Não estamos vendo os homens, em sua maioria, voltados para o bem. Estamos vendo uma geração após outra perdida, sem norte para educar a próxima geração.

Diz Kant:

“A educação, portanto, é o maior e mais árduo problema que pode ser proposto aos homens. De fato, os conhecimentos dependem da educação e esta, por sua vez, depende daqueles. Por isso a educação não poderia dar um passo à frente a não ser pouco a pouco, e somente pode surgir um conceito da arte de educar na medida em que cada geração transmite suas experiências e seus conhecimentos à geração seguinte, a qual lhes acrescenta algo de seu e os transmite à geração que lhe segue.”

O que estamos transmitindo à nossa geração?

O que estamos ensinando?

Será que estamos somente ensinando a Liberdade (e de forma muito errada)?

Os pais muito cedo permitem aos seus filhos escolherem. Passam para a criança desde a mais tenra idade a escolha das mais variadas coisas: o que vestir, o que comer, o que quer de presente seja de aniversário, Natal...

Penso que erramos aqui! A dar liberdade de escolhas a quem não tem ainda a capacidade de decidir. Uma criança deve vestir o que seu responsável acha certo, deve comer o que a família tem para oferecer em sua mesa!

E este direito à liberdade de escolha os pais querem que os filhos a use também na escola: escolhendo quem será o professor, escolhendo onde quer sentar na sala de aula...

Estamos dando uma responsabilidade muito grande a quem não tem capacidade de gerir e isto com certeza traz resultados não benéficos para a sociedade como um todo.

Os problemas surgem, pois os pais temem em assumir a educação de seus filhos e perdem a autoridade. E essa perda de autoridade dos pais em favor da autonomia da autoridade a quem não é capaz de gerenciá-la, é em Adorno uma das condições favoráveis para a perda do vínculo social. O vinculo social é o que mantém as relações entre os indivíduos.

O vínculo social faz que o homem olhe o outro em termos de igualdade. Mas na atual sociedade, onde os meios de comunicação em massa fazem efeito negativo sobre as personalidades o problema se cria: a banalização da violência, o descaso com o outro, a individualização da sociedade, os consumismos exagerado das novas tecnologias. Adorno chama a isto de “fetichismo da técnica”, que consiste numa idolatria por coisas, máquinas, em si mesmas.

Este fetichismo da técnica cria uma relação do homem com ela que contém algo de “exagerado, irracional, patogênico”.

Adorno, explica isso como uma incapacidade de amar. E essa incapacidade atinge a toda a sociedade.

Segundo Adorno, o papel da educação é evitar o retorno da barbárie. Esta é a forma como a educação pode cumprir com o seu papel, evitar o retorno da barbárie, o que, segundo ele, é uma questão decisiva para a sobrevivência da humanidade.

O fato é que o sistema familiar e escolar, como meios individuais, não basta para modificar esta realidade. Os pais por falta de opção de lazer ou mesmo por falta de tempo permitem que seus filhos passem muito tempo frente à televisão e ao computador.

A escola para não se tornar alienada permite e reforça a importância da televisão, não discute de forma crítica o seu uso, não polemizando os conteúdos por estes apresentados.

A televisão como meio de comunicação repassa através de suas programações a violência que as crianças desde muito cedo visualizam e absorvem. E esse processo de absorção é negativo para a construção de sua personalidade.

É urgente a união de esforços que envolvam a família e a escola, é preciso que haja uma discussão para que essa realidade tão violenta e tão presente na vida de nossas crianças, não torne a geração vindoura em pessoas frias.

Educadores, pais e professores precisaram saber qual o seu papel na educação.

É preciso que os pais aprendam a ser pais e não passem seus papéis para outro, como também é preciso que os professores conheçam seu papel e não o temam e saibam se posicionar frente às dificuldades que possam e vão surgir na relação aluno, escola e família.


“Qualquer debate acerca das metas educacionais carece de significado e importância frente a essa meta: que Auschwitz não se repita. Ela foi a barbárie contra a qual se dirige toda a educação. Fala-se da ameaça de uma regressão à barbárie. Mas não se trata de uma ameaça, pois Auschwitz foi a regressão; a barbárie continuará existindo enquanto persistirem no que têm de fundamental as condições que geram esta regressão” (Adorno).


É preciso colocar, na criança hoje, valores que a possibilitem a amar, reconhecer a importância da coletividade, é preciso libertar nossas crianças de valores mecânicos e frios que poderão com o passar do tempo, se não estivermos atentos, a fazer germinar uma nova Auschwitz que seria em Adorno um retorno à barbárie.


“Suspeito que a barbárie existe em toda a parte em que há uma regressão à violência física primitiva, sem que haja uma vinculação transparente com objetivos racionais na sociedade, onde exista, portanto a identificação com a erupção da violência física. Por outro lado, em circunstâncias em que a violência conduz inclusive a situações bem constrangedoras em contextos transparentes para a geração de condições humanas mais dignas, a violência não pode sem mais nem menos ser condenada como barbárie” (Adorno).



Referências:

Textos sobre Adorno e Kant disponibilizados no ambiente ROODA.

http://www.unb.br/fe/tef/filoesco/resafe/numero004/textos/artigos_nildoviana.html

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